O flagelo pela política (e judiciário)


Coincidências? Creio que não. O Judiciário Brasileiro envida um esforço colossal para inviabilizar as esquerdas no país. Estão, por exemplo, aprisionadas as duas principais cabeças pensantes do PT: Lula e Dirceu. Por conseguinte, a Justiça tenta de todas as formas destruir os mecanismos de defesa do ex-presidente, inclusive, o bloqueio de todas as suas contas bancárias e de todos os seus bens, tirando-lhe os meios mínimos de sobrevivência, até mesmo as suas prerrogativas de que gozam todos os ex-dirigentes do Brasil. Do Dirceu, nem se fala, tiraram-lhe até a casa da mãe. A despeito de que cometeram crimes ou não, isso é muito suspeito, ainda mais quando é flagrante a “proteção” a próceres de outros segmentos partidários, a exemplo do PSDB, que se transformou em uma sigla essencialmente de direita pelo seu abraço incondicional ao capitalismo selvagem e ao neoliberalismo que esmaga políticas públicas de inclusão social.

A impressão que fica é que não tem mais volta, pelo menos por enquanto, da normalidade no país, porque temos um avanço alucinante da direita, o que seria até normal, não fossem alguns braços que se armam com os gatilhos do ódio acionados pelas redes sociais. Não é crime ser de direita ou de esquerda, ou de centro, de centro-direita ou centro-esquerda. Isso é da democracia. O que preocupa é que neste momento o que prepondera é a violência para fazer valer idéias que lambem o fascismo, o radicalismo político e autoritário, com representantes tanto na seara política como no próprio Judiciário. O que preocupa é que a mídia acaba se tornando a caixa de ressonância de todos esses abusos. E dá espaço e destaque como se fosse algo positivamente transformador. Mas sabemos os motivos. Ela vive e sobrevive, no Brasil, nas sombras do poder, não importa se democrático ou autoritário. A história recente confirma isso.

Os abusos cometidos pelos membros do Judiciário em todas as instâncias já pouco ou nada causam de indignação. A falta de decoro é "bobagem", o que seria estarrecedor em tempos de normalidade democrática. Nessa mesma linha pode-se afirmar que a imoralidade não está só na prática política distorcida, mas também no Judiciário, por exemplo, que briga com unhas e dentes para assegurar privilégios, como é o caso do famigerado auxílio-moradia que beneficia até mesmo o magistrado que, além de ter a sua própria residência na cidade onde dar expediente, aluga outros imóveis de sua propriedade. Sem mencionar o indecoro de alguns magistrados que estão na crista da onda e que participam como estrelas em eventos ao lado de políticos denunciados e promovidos por empresas por eles mesmos investigadas.

A citação de Lula e Dirceu no lead desse artigo é para ilustrar o esfacelamento de algumas agendas progressistas no Brasil e no mundo. Desde os tempos do Mensalão do PT, quando o Judiciário deixou de lado o Mensalão Tucano, que já dormia nas gavetas de mesa dos magistrados, para condenar pelo “domínio do fato” nomes da esquerda brasileira, poderíamos antever chegar aonde chegamos, pela condenação por “fatos indeterminados” dos que ameaçam atrapalhar a pauta do estado mínimo. A recente ordem de prisão de um tucano, 11 anos depois de "esquecimento", de um personagem já esquecido politicamente, é apenas simbólico, uma mediazinha da Justiça Brasileira.

Por outro lado, se fizéssemos um paralelo com o que ocorre no mundo, essa é uma agenda de retrocesso global das conquistas sociais. O capitalismo que serve essencialmente ao grande capital em detrimento das bandeiras de inclusão social já vinha arrastando o mundo para a situação em que se encontra. De pobreza ampliada.

Você, que não está no pico da pirâmide, olhe à sua volta, para cima e para baixo, e veja quantos tijolos já desceu nesses últimos dois anos.


Damatta
Imagem: INESC

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