A pandemia Jair contra o vírus da vaidade da esquerda à direita

Em reportagem de sexta-feira, 24 de julho, a revista Veja publica levantamento do Instituto Paraná Pesquisa em que aponta o presidente Jair Bolsonaro liderando a corrida eleitoral de 2022, com 29% da preferência, distante do segundo colocado, Sérgio Moro, com 17%. Na avaliação de cientistas políticos citados pela revista, nem mesmo o ex-presidente Lula, que deixou o governo em 2011, depois de dois mandatos consecutivos considerados entre os melhores da história republicana do país e com quase 90% de aprovação, elegendo ainda a sua sucessora, Dilma Rousseff, conseguiria suplantá-lo se a eleição fosse agora. E isso, se o petista conseguisse aval legal para se candidatar.

Imagem: Jornal Contábil

A Veja aponta uma série de lambadas, erros, atropelos, antipatias, irresponsabilidades do atual presidente, suposto envolvimento com crimes de milícias e corrupção supostamente praticada por um de seus filhos, o que terminou com, finalmente, a prisão do ex-assessor parlamentar do filho senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, que também por uma mágica jurídica de um magistrado conseguiu prisão domiciliar. Mesmo com todo esse cenário negativo - contribuindo ainda o governo para o caos da pandemia do novo coronavírus que assola o país, com cerca de 85 mil mortes em quatro meses e 2,3 milhões de infectados, ameaçando um colapso no sistema de saúde do país - mesmo assim - o homem se reelegeria. Por tudo isso - sentencia a revista - Bolsonaro é um fenômeno político-eleitoral. E não vislumbra quem possa derrotá-lo nas próximas eleições, a não ser o hoje (e sempre) político Moro, que tem agora sua capa de moralista de combatente da corrupção caindo por terra. Mas assim mesmo teria muito de navegar para encostar no Jair.

Eu prefiro acreditar que, mesmo desconfiado com a seriedade da pesquisa, o que ocorre neste momento em relação a essa preferência por Jair Bolsonaro é, além do auxílio emergencial que vem fazendo certa diferença neste momento de pandemia, embora saibamos que esse dinheiro esteja chegando também para muita gente que não precisa, o povo brasileiro não é muito afeito às coisas da política e tem memória muita curta. O dinheiro, para o brasileiro, sempre faz a diferença. Essa história de consciência política não existe por aqui, para a grande maioria da população nesta nação - infelizmente.

Nordeste

Na edição seguinte da Veja, 25 de julho, a revista publica a extensão da pesquisa anterior em relação ao Nordeste e destaca que a "cidadela petista" está perdendo terreno na região para Bolsonaro, que sinaliza expansão do Bolsa Família (programa da era petista de transferência de renda para os mais necessitados) e inauguração de obras. 

Veja um trecho da reportagem:

Há três meses, 30,3% da população do Nordeste dizia aprovar o governo, número que passou a 39,4% em julho, avanço de 9,1 pontos porcentuais. Entre os que responderam que desaprovam o governo Bolsonaro, a proporção passou de 66,1% para 56,8%, recuo de 9,3 pontos. Assim, as variações na região foram superiores às da média em âmbito nacional, em que a aprovação foi de 44% para 47,1% e a desaprovação, de 51,7% a 48,1%. A margem de erro da pesquisa em relação ao Nordeste é de 4,5 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Desconfiando

Por que a publicação, com destaque, dessa pesquisa gera desconfiança? Ora, sabemos o modus operandi da revista Veja, de posição conservadora, antiprogressista, antilulista, antipetista, antiesquerda, como a maioria das grandes empresas de comunicação tradicionais deste país. O Instituto Paraná Pesquisa também sempre gerou desconfiança à esquerda e à direita. Sabemos que a revista não vive, há muito tempo, seus melhores dias, financeiramente. Estamos em plena corrida eleitoral, pelo menos do lado governista. Neste caso, para uma revista que agoniza, mas mantém grande circulação no país, o sinal dos dedos polegar e indicador pode estar funcionando como uma válvula de escape, como alívio, então vale-tudo para uma Veja que vinha capegando, equilibrando-se, aqui e acolá, sempre em cima muro.

Mas não podemos desprezar esses números. Não se pode duvidar do fôlego político de Jair Bolsonaro, que se identifica com o lado negativo de parte do povo brasileiro e tem um aliado que funcionou na primeira eleição e vai também fazer a diferença na tentativa de reeleição: as redes sociais, com seus robôs e tudo mais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já demonstrou que não tem mecanismos (e também, talvez, boa vontade e disposição) para inibir os crimes eleitorais virtuais como os que foram praticados na primeira eleição do atual presidente. Temos no país um segmento popular considerável que vota sempre no gestor de plantão por uma questão de princípio às avessas. E temos também uma parte da população que está mais preocupada consigo mesma do que com o vizinho ou o restante do povo. E o bolso, para essa parte, fala sempre mais alto. Qualquer auxílio emergencial, de 200, 600 ou mil, vale milhões de votos no Brasil.

Poços das vaidades

Eu também acredito que temos um problema político grave neste país: a vaidade política. Há muito que se fala em frente de oposição, frente de esquerda, frente democrática, frente de num sei mais o quê para derrotar o que está posto. Mas acontece que ninguém se une. Nem a oposição, nem a esquerda e nem a direita. 2022 está bem aí. E já se deveria ter trabalhado dois os três nomes para enfrentar essa pandemia que temos em Brasília e que muitos acreditam que seja de natureza fascista. Mas cadê?

Orgulho e arrogância são expressões e sentimentos que caem bem entre certos políticos brasileiros que se sobressaem. Não abrem mão do seu protagonismo. É o seu nome ou nada. E vamos vendo o vento nos levar, não sabemos pra onde, vítimas também do vírus da bazófia e da imodéstia política da grande maioria dos profissionais da política deste país. Estão todos mergulhando e afogando-se abraçados nos poços das vaidades.

Damata Lucas

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