Extrema direita vive de utopia? "Não se pode organizar uma paixão sem utopia"



Vamos a alguns tópicos interessantes registrados por pessoas interessantes, independentemente de suas posições políticas ou ideológicas, mas que nos remetem a uma reflexão sobre o momento político e social que atravessa o Brasil e muitos países do mundo, solapados, digamos assim, por um novo cenário ou um novo pensamento que vem sendo abraçado pelos povos, com desejos de mudanças, mas muitas vezes carregados pela "utopia", pelo discurso violento sedimentado de ódio e preconceitos, e de uma espécie de vingança por "atos indeterminados", ou  simplesmente pela vontade de que tudo volte a ser como era antes. Muitos dantes.


O jurista e escritor Wilson Ramos Filho (foto abaixo), doutor em Direito e professor da Universidade Federal do Paraná, registrou que o atual governo brasileiro, liderado por uma família, juntamente com seus ministros "podem fazer qualquer coisa e poucos reagem com algo além de um suspiro, um leve meneio, um tisque-tisque, ou pior, com um post nas redes sociais". E vai mais além: para ele, talvez por falta de opção, a grande maioria do povo brasileiro finge acreditar que tudo pode melhorar. "Penso aqui nas vítimas da Reforma Trabalhista, da Reforma Previdenciária, do desmonte do Estado, do fim das políticas públicas que demonstram uma incrível passividade ante tudo que lhes castiga. São pessoas normais, não são fundamentalistas, machistas, homofóbicos ou racistas, embora não se incomodem em ser governadas por fundamentalistas, com características discriminatórias."



"A resignação da gente normal frente à iniquidade, à desumanidade, à sandice, é que incomoda. Constitui-se em desafio para os cientistas e analistas políticos", conclui.

Por sua vez, a alemã Carolin Emcke (foto abaixo), filósofa e repórter de guerra durante dez anos, analisa como a xenofobia tenta monopolizar o discurso político. Segundo ela, é preocupante essa força que está adquirindo uma ideologia autoritária, antimoderna e baseada em dogmas de pureza que constroem a realidade como se fosse um perigo, uma ameaça. "Esta ideologia está mudando o discurso político no sentido de normalizar o racismo, o antissemitismo, o antifeminismo, e contribui para desumanizar as pessoas ou coletivos que mais tarde são vítimas de 'atentados' da extrema direita.


Para Emcke, os meios de comunicação se tornaram o principal instrumento de propaganda do extremismo porque não entendem sua estratégia. "A extrema direita não tem nenhum interesse em discutir nem em ganhar nenhum debate. A única coisa que ela procura é visibilidade. E isso é o que lhes proporciona o mau jornalismo que recorre aos debates políticos para ganhar audiência. A doença da televisão atual é confundir neutralidade com cinismo. O problema desses programas é que são apenas um simulacro de debate. E não é verdade que todas as opiniões valham igual. Há opiniões que estão apoiadas em mentiras. O que a extrema direita procura é que não se distinga entre verdade e mentira."




Emcke conclui afirmando que o problema dos últimos anos foi a falta de desejo político das classes em geral. "Parece que só a extrema direita tem uma utopia. É uma utopia regressiva, de morte e destruição, mas utopia. Conservadores e socialdemocratas não têm nenhuma." E arremata: "Não se pode organizar uma paixão sem utopia".  (...).

Eu poderia acrescentar que as esquerdas também perderam o poder de sonhar. Talvez solapadas pelo moderno sonho exacerbado  de poder a qualquer custo. Perderam a utopia..

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